quinta-feira, 30 de outubro de 2014

“O bem, o mal e o indiferente” - A hipocrisia justiceira



        Em pleno século XXI, pessoas se julgam no direito de cometer crimes contra outras baseando-se em argumentos de que o Estado é omisso e de que a polícia é falha. Como se isto justificasse a prática destes feitos. Por assim achar, uns e outros imaginam até mesmo que os meninos negros são diferentes e merecem tratamentos diferenciados, como a ausência de julgamentos, a não aplicação correta da lei e a falta de direito à própria justiça. 
     Alguns críticos aos Direitos Humanos dizem que o mesmo deve ser aplicado apenas para "Humanos Direitos", ou para os "verdadeiros humanos", mas esquecem-se de que praticando tais atos deixam de fazer parte deste rol. Instaura-se então uma dicotomia: a divisão da humanidade em duas partes, sendo boa e ruim. O problema é definir os lados de cada um. 
         Os intitulados pela mídia como "justiceiros", nativos da zona sul do Rio de Janeiro, zona nobre da cidade, acabam de ser presos por porte de armas e tráfico de drogas, aqueles mesmos que agrediam um jovem negro, dizendo estar agindo em defesa dos cidadãos de bem, por ironia do destino e por ação da lei, as máscaras caíram. Infelizmente já estavam tão habituados com isso que não lhes foi difícil incitar outros a fazerem o mesmo.
        Os “sábios” e “intelectuais” do momento, principalmente das redes sociais, fazem questão de pregar a defesa destes mesmos cidadãos de bem, se vangloriam pela “defesa do país" de criminosos como os pobres, mas isto através da discriminação em suas várias faces, exclusivamente com a opressão de outra classe, com o discurso de ódio e morte, agressão, violação de direitos, violência física e moral, e mais uma infinidade de atrocidades. Agora, o que há de mais novo neste mundo hostil é a xenofobia, principalmente contra nordestinos, mais uma vez movidos pelo ódio e pela falsa ilusão de estarem com razão em fazer o que se tem feito. Sempre agem em detrimento daqueles que já são oprimidos e massacrados por muito tempo, de todos os lados e de todas as maneiras. Portanto, não pode restar dúvida sobre qual lado se está ao agir desta forma.
          Muitos são os contribuintes para estas situações lamentáveis e incompreensíveis, por exemplo, o sensacionalismo com que isso é transmitido por alguns veículos de comunicação. A população que tem se manifestado veementemente a favor destes atos cruéis encontra apoio nas mídias que dizem o que esta parcela civil quer ouvir. Deparam-se até com incentivos em determinados casos. Isto sufoca tanto a minoria oprimida quanto os poucos defensores desta causa e classe que ainda tem coragem e motivação para agir em sua defesa. Outro principal problema da mídia, dita “grande mídia”, é mostrar assaltos, homicídios e crimes em geral apenas em lugares onde a elite predomina, onde o branco tem vez e o negro não. Neste caso o biótipo das vítimas de inúmeras "zonas suis" já está pré-definido, ele possui cor, classe, status, poder e uma infinidade de características “superiores” e não podem sofrer com as mazelas sociais. Mas esquecem-se de que nas favelas onde predomina o oposto, estes crimes são bem mais elevados, em específico e elevadíssimo grau, as mortes. Existe algo institucionalizado na mente das pessoas, e novamente se instaura um embate entre duas correntes: uma que prega o discurso de ódio e outra que tem o dever moral de agir por aqueles que não podem o fazer, mas novamente surge a reflexão: o que verdadeiramente é o mal ou o bem?
           Atualmente o discurso de ódio tem se ampliado, não mais apenas aos jovens negros que vivem às margens da sociedade, mas também aos residentes no nordeste do país, aos homossexuais, aos desiguais na concepção desmedida de parte da sociedade contemporânea. Já a corrente humanista defende a liberdade, a igualdade de direitos e deveres, a piedade por aqueles que não a tem e todas as formas de inclusão, defesa, compreensão e justiça que precisam e merecem todos os oprimidos. Esta é a dualidade a qual nos deparamos em nosso cotidiano, é preciso ter um lado, levando em consideração o que é certo, não para um ou para outro, e sim para todos. Desconsiderando qualquer conceito de raça, de etnia, de classe, de opção religiosa, de opção política, de opção sexual e qualquer outro aspecto. 
       Porém, um quesito é vital que seja levado em consideração prioritariamente, o humanitário. Diferente da corrente conservadora, direitista e elitista, ideológica e dogmática que prega morte aos "bandidos", deve-se optar pela justiça, pela dignidade da pessoa humana, pelo ser humano e pautar-se sumariamente no pragmatismo. Assim não se verá mais pessoas em pleno Estado Democrático de Direito sendo acorrentadas e mortas pelas mãos sujas de alguns. 
          Melhor que ver jovens em bancos de réus, ou amarrados pelo pescoço em postes pelas cidades, ou agonizando pelos chãos das metrópoles, ou até mesmo mortos por diversas partes do país, é vê-los nos bancos da escola, com oportunidades iguais e com toda estrutura para que se tenha opções no futuro que não seja o crime e suas sanções diretas ou indiretas. Em uma música cantada pela banda “Capital Inicial”, são ditas três palavras que vem individualmente de encontro com esta crítica: “o bem, o mal e o indiferente”. É necessário ter um lado, escolher entre o bem e o mal, sobretudo, sabendo o que é o bem e o que é o mal verdadeiramente, mas respeitar acima de qualquer coisa as adversidades. Ser indiferente e compreensivo perante tudo isto, seja em quais aspectos forem, desde as bases estruturais que um indivíduo teve e que o levaram a um rumo diferente do seu, à sua raça, classe social, religião, opção sexual e qualquer inconformidade com a escolha de cada um. Ser indiferente às diferenças é questão de inteligência. Pratiquemos o bem comum. Por mais humano feliz. Mas para isto é necessário desmistificar esta hipocrisia que se solidifica na mente daqueles que são levados por ondas de "justiça com as próprias mãos". A justiça agirá, respeitemos-na.


Djalmir Souza

Djalmir Souza
Criador do Manuscrito Livre

Mais sobre

Me chamo Djalmir Souza, tenho 23 anos, moro no momento em Volta Redonda, atualmente curso Direito e História pelas universidades UGB e UNIRIO, respectivamente. Nas horas vagas, que por sinal são cada vez mais raras, também sou concurseiro de plantão. Minha história com a escrita e leitura começou ainda na infância, quando acertadamente minha amada mãe me trouxe gibis de segunda mão da Turma da Mônica. Isto despertou em mim um gosto que só me trouxe benefícios e conquistas. Sempre fui muito curioso também, e isto me levou até a História, pela qual sou completamente apaixonado, principalmente pela História do Brasil. Tentar saber o porque disso tudo e tentar entender como e porque chegamos até aqui é fantástico! Já no Direito eu cheguei por falta de habilidade com números, confesso. Mas hoje posso dizer que descobri minha verdadeira aptidão e vocação, pois lidar com as magníficas leis que regem nosso país, estudar e conhecer a bela constituição que temos, lidar com pessoas em seus diversos momentos, não tem preço. Enfim, sou completamente apaixonado por tudo que faço, afinal, é isto que me motiva a dar continuidade aos meus sonhos, que não são poucos, e levantar todas as manhãs para tentar novamente, principalmente depois das quedas. É difícil falar sobre nós mesmos, mas ainda tenho outras coisas a dizer, como gosto de escrever, me estenderia por longas linhas ainda, mas deixarei para um outro momento oportuno. Dessa forma, até logo!